quarta-feira, 2 de junho de 2004

O mais brilhante dos sentimentos

ÓDIO


Ódio.Simples e imediato como o que me vem à cabeça quando penso em ti.
Ódio por me ter entregue desta maneira e ódio por me teres entregue às feras. Ódio da fera, do abutre em que te tornaste, egoísta, alarve, roubando aos caçadores a presa, marcando o seu território e deixando depois no chão o meu cadáver a apodrecer, pelo simples prazer de matar sem de fome estar acometido... Ódio a esse silêncio de luto, a essa esperança negada, a esse orgulho fingido.
Ódio às palavras mais verdadeiras saídas do fundo de mim, derramadas nesse mar turbulento de inverno.
Ódio às palavras gritadas ao vento, transformadas em ecos, pesadelos, gemidos, música, serenata manchada de negro...
Ódio às noites perdidas à tua espera, às luas fugidas, chuvas perdidas, misturadas com lágrimas cor de sangue: celestial negro...
Ódio ao tempo, às almas, aos santos, aos céus, às gaivotas pairando, suavemente agoirando no espaço infinito do pensamento...
Confesso: odeio tanto que me divirto, confesso que guardo em mim, junto às lágrimas que ainda me restam, um sorriso maquiavélico.
Um prazer secreto em ver-te sofrer, em ver-te arder junto a mim, de te ver sofrer aprisionado numa armadilha igual à que me armaste.
Gozo supremo em ouvir-te chorar em silêncio, à distância. De te ouvir dos lábios de fel o arrependimento, a confissão, a penitência, o castigo, a extrema unção, a morte.
Rio-me de ti e do teu destino, e às vezes chego a pensar em parar, em te poupar o trabalho, em prestar-te uma homenagem final.
Sinto pena.
Sou humana. Mas não, tu repetirias tudo de novo... sem dó...

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