segunda-feira, 7 de junho de 2004

PePtidase no seu melhor!

CARTA A UMA AMIGA AUSENTE

Recordo-te, frágil e etérea, e a angústia que subitamente senti ao rever-te, terminadas as férias de verão, na esplanada da Madrilena, num fim de tarde de Setembro...
Não pude, nem soube então dizer-te a palavra certa ou necessária... Talvez por, naquele momento, mais ter pressentido do que entendido que iniciaras um percurso para dentro de ti mesma e que as minhas mãos estendidas começavam a não poder agarrar-te... Talvez porque bem no fundo de mim recusava acreditar para que, não acreditando, não pudesse ser verdade... Ou por não saber se existe essa palavra certa e necessária... ou se existe para além de eu querer dizer-ta... ou se dizer-ta teria a força necessária para que parasses no limiar desse caminho que leva a lugar nenhum...
Por vezes, sem palavras para dar a ajuda que nunca me pediste, apetecia-me transmitir num abraço o apreço, a amizade profunda que mereces... mas sempre o gesto fica aquém do sentimento e agora que estás longe e não sei como estás, o que sentes, o que pensas ou queres, gostaria de dizer-te tudo o que ficou por dizer... mas confundem-se os gestos e as palavras e fico muda e queda diante desta folha de papel.
Dia a dia acompanhei, quase em silêncio, a tua fragilidade, pressentindo a alma dolorida na transparência do teu corpo. Havia o pudor de perguntar, o medo de saber, como se só por ouvir da tua boca a palavra rigorosa e precisa ela pudesse passar a ser verdade... e eu recuso para ti essa verdade!
Algumas vezes falavas das dietas que não tinham sentido... e eu queria então acreditar que a tua fragilidade era passageira, que para além do corpo a alma estava inteira e forte. As opiniões que tens sobre os assuntos, as tuas ideias, os teus projectos, a verdade que pões em cada acto da tua vida... tudo tão certo, tão equilibrado, tão inteligente!
Depois partiste, quase sem prevenir, e a revelação da tua ausência física deixou uma profunda emoção, revivida em cada objecto, em cada espaço que compartilhamos e onde, ainda assim, mesmo não estando, tens permanecido todos estes dias na saudade dos Amigos.
Por isso, um dia, quando a saudade tocou mais fundo, enviei um mensageiro para te dizer - "Parabéns por seres como és".
E é exactamente assim, "como és" - linda, inteligente, simpática, companheira, decerto a mais querida por todos - que te queremos de volta, muito em breve.
Havemos de fazer de conta que neste percurso pela Vida paraste um instante na encruzilhada para procurar o caminho certo, o que leva ao Futuro... e como é nas encruzilhadas que todos os caminhos desembocam, é aí também que havemos de encontrar-nos, todos, para continuarmos a caminhada e inventarmos o mais fantástico Futuro que alguma geração já teve!
... Mas nunca seguiremos sem ti!

Mariana Roxo (Rita Vilar)
PePtidase

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