domingo, 2 de maio de 2004

MÃE

Quando tenho que falar nas pessoas que mais amo no mundo, fico sem palavras, arrepio-me dos pés à cabeça e irrita-me só de pensar que tenho tanto para lhes dizer e não vou conseguir dizer metade nem encontrar as palavras mais certas. Desisto!
Amo-te Mãe!

AS TUAS MÃOS NA MINHA TESTA

Achei que com o passar dos anos, essa tua extraordinária capacidade de atenuar os meus problemas fosse consumida pelo equilíbrio natural de forças entre Mãe e Filha. Partilho contigo um problema e tu ficas com parte dele. Roubas-me metade da preocupação e em segundos que me fazem sentir a presença indestrutível do cordão umbilical, devolves-me uma solução.
Como é que consegues ser verdadeiramente omnipresente, estar em todas as tuas crias ao mesmo tempo, da mesma forma, com a mesma entrega?
Como é que consegues gerir feitios, egos, carências, horários, birras, sopas, amigos e mesmo assim nunca te esqueceres de ti?
Como é que consegues ver sempre "o que é que se pode fazer" e fazer sempre, mesmo as coisas que à partida mais ninguém consegue ver?
E as tuas mãos? Como é que conservam sempre a temperatura certa na minha testa?
Tentei, numa corrida à infância, escolher a recordação mais feliz da tua presença na minha vida.
Cheguei à conclusão que é impossível percorrer esse caminho em pouco tempo. São muitas.
Procuro então algo que ainda não te tenha dito. E encontro.
Já vivemos segmentos de vida em que resolvemos problemas em silêncio, em que foste cúmplice da minha dor e a absorveste como tua. O mesmo se passou sempre com as minhas alegrias que devoras e vives como tuas. Chegou a altura de alterarmos um bocadinho as regras. De passares a bola das soluções mágicas para o meu lado. De equilibrarmos finalmente forças entre mãe e filha. De me roubares apenas as alegrias. Agora sou eu que te vou atenuar as preocupações e tentar solucionar os problemas. Só não sei se te consigo herdar a temperatura das mãos.
Está na altura de recolheres toda a ternura que semeaste. Eu prometo ver o que se pode fazer.

Rita Ferro Rodrigues

Sem comentários: