segunda-feira, 5 de abril de 2004

Repetição

Voltei a procurar-te um dia destes. Pensei que pudéssemos acrescentar mais um outono ao nosso herbário de silêncios, mas a estrela com que nos lançámos um do outro vaga cada vez mais longe na imensa constelação de todas as promessas até ser somente outro esquecimento. Não é por me sentir tardia, de mãos vazias, a reler o livro onde escreveste: um dia regresso dessa noite escura para te acender o caminho, não é por ter compreendido finalmente o que querias dizer com aquilo, talvez seja porque tenho outro livro do mesmo poeta e continuo à espera que me dês um beijo. Depois de uma outra estrela assim ter cortado subitamente a respiração do poema.
Se te voltei a procurar, eu sei, se te voltei a procurar é porque há uma beleza resumida na forma como te resolvi chamar, porque não me detive no declinar do teu rosto que se desprende cada vez mais, porque não me descalcei nem me ceguei para atravessar a árdua poeira do esquecimento e continuo a sorrir, mesmo que o poema me acenda primeiro que tu e não saiba por que noite escura te levaste de mim.

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