sábado, 17 de abril de 2004

Não te assusta na vida os pormenores que te escapam?


Foi bom ver-te assim. Por entre os teus cabelos molhados, um sorriso livre e alegre.
Fumaste cigarro atrás de cigarro. Bebeste, diria descontroladamente, mas soltaste mais sorrisos. E por cada um deles, levavas outro meu.
De volta, deste-me a mão e agarraste-me intensamente. Senti-te da mesma forma e soube-nos bem. Combinamos uma conversa.
Fechei os olhos. Tive medo, mas protegeste-me na minha inconsciência. Protegeste-me carinhosamente enquanto me entregava ingenuamente a ti. Toquei-te a mão e fomos assim. Não sei se a tomei apenas para mim ou se foi um gesto cúmplice. Não sei se apenas a deixaste em mim para evitares magoar-me. Ou se pura e simplesmente a ofereceste momentaneamente.
Abri de novo os olhos e vi a luz passar na ponte. A beleza de os manter fechados atraía-me bem mais.
A tua cabeça tombou. Senti calorosamente a tua face na minha. Os meus lábios adormecidos afagaram-te e lembro-me que quis que o tempo fosse ali eterno. Quis parar, ficar a sentir-te, apenas. Sonhei perdidamente aquele momento e confunde-me não saber o que foi real.
Quero esse sonho de volta. Tinha esquecido o que era sentir assim.
Não faz sentido querer sentido. Evitar. Recalcar. Mas tem que ser. E por isso te evito e por isso te evito. Tomo o sentimento e a pessoa com a indiferença possível que o disparate das relações permite.

Paulo in www.cartasamonica.blogspot.com

Sem comentários: