terça-feira, 25 de novembro de 2003



Ó Sancho

Ó Sancho. Tu não morreste. Em meio das inquietas e desordenadas multidões de todos os dias, vi teu rosto refletido na ruidosa linguagem. Porém como estás mudado, e com que elegância! Mudaste a albarda pelos guantes, e em lugar de conduzir um triste jumento, conduzes um carro. Tendo atirado para o lado as vestimentas que usavas, tens agora o garbo de um senhor, bom Sancho. Quem pode descobrir em tua nova roupagem, o inferior lacaio de algum tempo atrás? Porém tua grosseira natureza não mudaste; hoje, como ontem, és algo encarnado. O que é para os teus olhos nossa amarga guerra selvagem, cheia de dor e sofrimento? Só um gozo. És sempre o mesmo; ainda brotam de teus lábios a rouca e sonora gargalhada e teu sorriso. Com teu aburguesado passo largo, pavoneias-te de erudito.

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