quarta-feira, 8 de outubro de 2003

Rankings

Não Se Faz...
Por JOAQUIM FIDALGO
Quarta-feira, 01 de Outubro de 2003

Se todas as escolas deste país fossem Colégios Sãos Joões de Britos, muita gente ficava satisfeita. Vinha tudo bem colocado nos "rankings", as notas de exame eram mais que aceitáveis e até fazíamos um figurão nas estatísticas europeias onde costumamos ficar mal.

Em contrapartida, se todas as escolas deste país fossem Colégios Sãos Joões de Britos, também muita gente ficava triste. Quem? Os meninos e meninas deste país que nem passariam a porta da escola, impossibilitados de aprender ou estudar o mínimo que fosse. Porque, se todas as escolas fossem como aquela, isso significaria que milhares de jovens ficariam de fora. Porque nos Colégios Sãos Joões de Britos não entra quem quer - só entra quem pode. E poder é uma questão de dinheiro (pelo menos 700 contos por ano, não era o que diziam os jornais?), mas não só de dinheiro: é uma questão de acessibilidade, de família, de contexto sócio-cultural.

Uma pequena notícia do PÚBLICO, no dia em que saíram os "rankings", dizia mais do que muitas listagens e análises. Sabendo que o Colégio São João de Brito, em Lisboa, pertence aos jesuítas, a jornalista Bárbara Wong tentou perceber se outros dois colégios ligados à Companhia de Jesus (o Instituto Nuno Álvares, em Santo Tirso, e o Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache) tinham resultados semelhantes. Seria lógico. Se, ao que tantos dizem, o que explica os bons resultados de uma escola é a sua organização, a sua exigência, o seu rigor, o seu modelo, então o "padrão" jesuíta deveria ter sucesso em qualquer sítio do país. Mas... oh!, não era assim... O brilhante 1º lugar da escola de Lisboa estava longíssimo do 164º lugar da de Santo Tirso e do 249º da de Cernache. Então, o que é que mudou? Mudaram os alunos. Aaahhh!...

"O colégio de Coimbra [Cernache] fica num meio paupérrimo", justifica o director do São João de Brito. "É um meio rural, com fraco nível cultural. Teríamos outra posição no 'ranking' se estivéssemos mais próximos de Coimbra." Pois é, se pudessem escolher o meio e seleccionar os alunos... Assim até eu! Quando o nível de partida é baixo, nem as excelentes escolas e os excelentes professores da Companhia de Jesus conseguem grandes resultados. Em Lisboa é outra coisa, os alunos não têm um "fraco nível cultural" - porque, se têm, não entram... O que não acontece nos colégios de Santo Tirso ou de Cernache, ambos com contrato com o Ministério da Educação, que os obriga a receber todos os alunos da zona, fazendo as vezes da escola pública.

Isto é uma amostra de como os "rankings" têm que se lhes diga e podem ser enganadores. Não tenho nada contra o Colégio São João de Brito, que recebe quem quer, e quem paga, e tira boas notas nos exames. Mas também não tenho nada contra a Escola Básica Integrada de Pampilhosa da Serra, que recebe quem quer e quem não quer, se calhar faz um bom trabalho em condições de partida tão desiguais, e tira fracas notas nos exames. O que me custa é vê-las colocadas no mesmo plano, comparadas como se fossem a mesma coisa. E que a uma se "dê" o primeiro lugar e a outra o último deste "campeonato" desigual. Isso não se faz.

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