quarta-feira, 22 de outubro de 2003

Numa noite, igual a tantas noites, resolvi navegar por alguns blogs. Houve um que me chamou especialmente atenção: No Parapeito.
Neste blog encontrei um texto que era precisamente o texto que eu gostava de escrever à minha Mãe.
A Rita (a autora do blog) conseguiu traduzir por palavras, muitos dos sentimentos que tantas e tantas vezes são difíceis de expressar.
Não pedi autorização para o divulgar aqui, mas não me contive.
Desculpa Rita!!! E parabéns!!!

AS TUAS MÃOS NA MINHA TESTA

“Achei que com o passar dos anos, essa tua extraordinária capacidade de atenuar os meus problemas fosse consumida pelo equilíbrio natural de forças entre Mãe e Filha. Partilho contigo um problema e tu ficas com parte dele. Roubas-me metade da preocupação e em segundos que me fazem sentir a presença indestrutível do cordão umbilical, devolves-me uma solução.
Como é que consegues ser verdadeiramente omnipresente, estar em todas as tuas crias ao mesmo tempo, da mesma forma, com a mesma entrega?
Como é que consegues gerir feitios, egos, carências, horários, birras, netos, escolas, sopas, amigos e mesmo assim nunca te esqueceres de ti?
Como é que consegues ver sempre "o que é que se pode fazer" e fazer sempre, mesmo as coisas que à partida mais ninguém consegue ver?
E as tuas mãos? Como é que conservam sempre a temperatura certa na minha testa?
Tentei, numa corrida à infância, escolher a recordação mais feliz da tua presença na minha vida.
Cheguei à conclusão que é impossível percorrer esse caminho em pouco tempo. São muitas.
Procuro então algo que ainda não te tenha dito. E encontro.
Já vivemos segmentos de vida em que resolvemos problemas em silêncio, em que foste cúmplice da minha dor e a absorveste como tua. O mesmo se passou sempre com as minhas alegrias que devoras e vives como tuas. Chegou a altura de alterarmos um bocadinho as regras. De passares a bola das soluções mágicas para o meu lado. De equilibrarmos finalmente forças entre mãe e filha. De me roubares apenas as alegrias. Agora sou eu que te vou atenuar as preocupações e tentar solucionar os problemas. Só não sei se te consigo herdar a temperatura das mãos.
Está na altura de recolheres toda a ternura que semeaste. Eu prometo ver o que se pode fazer.”
// posted by rita @ 9/21/2003 03:47:58 AM

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