quinta-feira, 2 de outubro de 2003

Hoje ouvi um lamento... arrastado, como um murmúrio, quase imperceptível... pareceu-me uma voz doce, mas soluçada. Queria acreditar, dei asas à imaginação, mas depressa me afoguei na realidade. Queria acreditar que chamavas por mim, ou que o teu espirito sussurrava ao meu ouvido, mas não, não me posso dar ao luxo de pensar em ti... fazes-me sonhar acordado e afastas-me de uma realidade cruel de mais para ser ignorada... choro, mas sem derramar uma única lágrima, sinto uma brisa gelada que me deixa inerte e me tolhe as ideias num rodopio de imagens que me confunde...
Respiro fundo e acendo um cigarro. Sabes que não fumo no carro, mas estou demasiado alucinado para me preocupar com isso, porque todo o real me parece fantasioso e num sublime ataque de loucura penso que nada aconteceu. Depois paro. Paro e tento acordar à força mas... não me apetece... foda-se, tenho esse direito! Só queria pensar que te conseguia esquecer e viver nessa puta dessa ilusão, como se mais nada se passasse em redor! Desculpa o linguajar, mas o mundo é maior que isso e os sentimentos são difíceis de verbalizar, para além de estar farto de mulheres fáceis e ocas com que te tentei esquecer... depois foi-se tornando mais difícil, porque algumas dessas relações não se revelaram, de todo, desprovidas de sentimento e acabei por chegar à conclusão que desaprendi, com a frieza da situação, a amar... e isso doi, como se tivesse lançado um feitiço sobre mim mesmo e me tivesse tornado incapaz de algum dia voltar a amar.
Um amigo dizia para não desperdiçar as lágrimas porque são demasiado minhas para as desperdiçar mas, se não fosse por ti, por quem ia eu chorar, mesmo que em silêncio, para não despertar ninguém...
Sei que decerto não pensas assim e tentas ganhar força na persecução de objectivos aos quais te tentas agarrar para definir um rumo novo para a tua vida, mas tenho a certeza que um dia mais tarde, se reflectires bem, chegarás a conclusão que és, para além da tua essência, aquilo que eu te fiz...

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